5 de dezembro de 2009

Vampiros fazem história


Se uma boa história é feita de conflitos e de escolhas difíceis, os vampiros são criaturas com um grande potencial narrativo - não havendo surpresa na forma como a sua popularidade se mantém e se reacende de tempos a tempos. Demasiadas vezes, as histórias de fantasia (urbana ou medieval) recaiem sobre a mais que explorada divisão absoluta entre os bons e os maus, pondo preto no branco aquilo que seria muito mais fascinante se fosse pintado a tons de cinzento. Entre o dia e a noite, o vampiro como eu o imagino é, por natureza, alguém que encontra o seu caminho entre muitos e variados opostos. Tem certamente grandes poderes, mas paga sempre um preço por eles. Precisa de Sangue para viver, mas o Sangue não é só um mero alimento ou sequer uma droga. Mantém a necessidade de se relacionar emocionalmente com os seres humanos, mas arrisca-se a matá-los ou a escravizá-los. Tem a possibilidade de viver eternamente, mas não pode trazer consigo aqueles que ama sem os ver transformados para sempre. Necessita da ajuda de outros como ele, mas também compete com eles por Sangue e por influência sobre a sociedade. Pode até mudar o mundo, mas o mundo muda muito para além do quanto ele se consegue adaptar. Encontra muitos que o querem destruir, mas também alguns que querem servi-lo a todo o custo. Desperta profundos ódios e paixões, mas quase ninguém reconhece a sua existência.

O vampiro como eu o imagino - e como o tenho escrito - não é feito de certezas absolutas, mas também não encontra correspondência em todas as lendas e superstições que dele se contam ao longo dos tempos. É um vampiro que só existe verdadeiramente no momento em que a sua história é criada pela voz daqueles que lêem-jogam Sangue-Frio.

4 de dezembro de 2009

Nascido no Halloween

O e-book "Sangue Frio: Noite das Bruxas" já está pronto e disponível para download no lulu.com a preço zero. Estou neste momento a folheá-lo no meu BeBook e também se pode lê-lo confortavelmente no ecrã de um portátil. Esta versão gratuita é dedicada a toda a comunidade online de roleplayers que muito tem contribuído para a promoção dos RPGs em Portugal e no Brasil. Experimentem, leiam, joguem e depois não se esqueçam de me contar como correu. Enviem as histórias dos vossos últimos vampiros para o endereço ultimosvampiros arroba gmail.com e digam se as querem ver aqui colocadas.

3 de dezembro de 2009

O que têm de especial os Jogos de Simulação Narrativa (RPGs)

Publicado originalmente no www.abreojogo.com

Como é que é possível juntar o gosto de vencer um desafio, a emoção de explorar um mundo diferente e o prazer de contar e ouvir uma história em que nós próprios somos os protagonistas? Esta mistura tão explosiva e tão improvável é o que os Jogos de Simulação Narrativa (RPGs) têm de especial.

Quando falamos de "Jogos", naturalmente pensamos em: divertimento, convívio, regras, desafios e competição. Os RPGs têm todos estes elementos menos o factor competitivo - pois estes são jogos de forte colaboração entre os participantes, através da qual se revela a criatividade e o engenho de todos. A "Simulação" surge justamente graças a esta dinâmica de grupo. Dentro da estrutura do jogo, o grupo cria um espaço imaginário partilhado onde qualquer mundo pode ser simulado, qualquer período histórico, sonho de ficção científica, fantasia, terror, drama, comédia, conto de espionagem, história de aventuras, trama política, cenário apocalíptico, idade da pedra, qualquer espaço imaginário onde os participantes entendam jogar. Para além disso, este simulador não se limita a recriar um universo estático, pois, logo que este mundo é assim imaginado, os jogadores nele começam a contar uma história, uma "Narrativa" cuja criação é igualmente partilhada e cujo fim ninguém pode prever.

Actualmente, há milhares de Role-Playing Games (RPGs) e milhões de roleplayers que brincam com este triplo propósito dos Jogos de Simulação Narrativa. Alguns têm mais regras ou desafios, outros apresentam o seu mundo em grande detalhe, outros preocupam-se em estruturar a história da forma mais interessante possível - mas dentro desta enorme variedade há esta essência tão especial que distingue estes jogos de quaisquer outros. É uma mistura instável e cheia de potencial que concentra elevadas doses de singular divertimento.

Papel de parede

Para friamente ensaguentar o vosso ambiente de trabalho...


Cliquem na imagem para a descarregar.

29 de novembro de 2009

Lê agora, lê mais tarde

Para além da parte destinada a ser lida em voz alta, o caderno escrito pelo nosso companheiro inclui também várias anotações, comentários e sugestões que cada um pode ler para si já fora da sessão de leitura-jogo. Nesta parte, encontra-se um detalhado Tarot Vampírico, ou seja, uma análise, interpretação e exemplificação da simbologia de cada uma das cinquenta e duas cartas que são usadas em “Sangue-Frio”. Estas são as 13x4 cartas de um baralho normal vistas do ponto de vista do autor deste caderno e explicadas com o propósito de aprofundar as indicações que ele nos deu nos curtos parágrafos do ritual apresentado anteriormente. Como leitura, este Tarot Vampírico ilustra tudo o que foi indicado até agora mostrando cinquenta e duas cenas possíveis do passado de um vampiro. Na práctica, esta parte pode mesmo ser usada para consulta durante a sessão.

Na sequência do Tarot Vampírico, o autor do caderno faz alguns comentários e sugestões adicionais sobre o ritual de evocação do passado e, de seguida, passa a explicar como a informação revelada por este Tarot pode ser aplicada num ritual de invocação do futuro para determinar o possível destino do vampiro que cada leitor-jogador encarna. Do ponto de vista do autor, este ritual destina-se a vampiros que já se consideram recuperados inteiramente da sua memória e que agora desejam olhar para o futuro e ter uma visão das circunstãncias em que poderão enfim morrer.

Expondo assim pelo poder divinatório das cartas toda a longa vida e a possível morte dos últimos vampiros deste mundo, o autor deste caderno termina a sua preciosa missiva com confessa amizade.

28 de novembro de 2009

Joga com quem quiseres, quando quiseres

Como jogo e como livro, “Sangue-Frio” não tem uma duração definida, ou seja, a qualquer momento é possível parar e ler-jogar mais tarde. Os últimos parágrafos do ritual explicam como é possível ter essa continuidade, bastando só fazer algumas anotações numa folha de papel onde a informação para cada vampiro pode ser mantida e usada mais tarde. O mesmo vampiro pode ser encarnado em sessões de leitura-jogo diferentes, por e com pessoas diferentes.

Encarna o vampiro dentro de ti

Quer o conteúdo, quer o formato de “Sangue-Frio” estão totalmente desenvolvidos dentro de personagem e dentro da ideia que este livro é um caderno destinado a ajudar os seus leitores vampiros. A partir do momento que o texto pronto a ser lido em voz alta começa, quem o escreveu nunca sai de personagem para explicar que isto afinal é só um livro-jogo e que estas memórias são só imaginárias. Tentando estar o mais possível na fronteira entre o real e a fantasia, este livro pretende ser, ao mesmo tempo, uma obra de ficção e um caderno de facto escrito por um nosso companheiro vampiro.

Joga sem ler previamente as regras

Todas as explicações, instruções e sugestões indicadas pelo ritual de “Sangue-Frio” são apresentadas em pequenos parágrafos que estão preparados para serem lidos em voz alta à vez por cada leitor-jogador. Deste modo, começa-se a jogar de imediato e a informação necessária vai sendo intercalada com o jogo em si. As instruções estão apresentadas de forma a rapidamente mostrar como o ritual funciona, sem ser necessário seguir com exactidão tudo desde o princípio. Toda a informação relevante vai sendo sucintamente repetida, começando por dar desde logo uma ideia geral e só depois entrando em detalhes.

26 de novembro de 2009

Vive uma gigantesca história feita só para ti

Gradualmente, a leitura do ritual de “Sangue-Frio” introduz o uso de um baralho de cartas para sugerir que tipo de cenas poderão ser evocadas, o que poderá acontecer nelas e como se poderão resolver. Do ponto de vista do vampiro que o leitor-jogador encarna, ele está a recordar-se de uma cena relevante do seu passado - algo que já aconteceu, que é importante e da qual ele se está a tentar lembrar com a ajuda dos outros vampiros. Do ponto de vista do próprio leitor-jogador, ele está a criar a cena que lhe interessa ter nesse momento com o seu vampiro, através do espaço imaginário partilhado que surge da colaboração entre todos os leitores-jogadores. Nessa colaboração, quem encarna o vampiro em causa usa as cartas para determinar as circunstãncias da cena evocada e o que é que se passou à volta da sua personagem. Seguidamente, os outros leitores-jogadores usam as cartas para determinar o que é que o vampiro em causa fez ou disse, sugerindo várias hipóteses. Por fim, quem encarna o vampiro escolhe uma dessas hipóteses, determinando como é que a cena se resolve.

25 de novembro de 2009

Tu és uma força imparável nascida na Idade das Trevas

As personagens que os leitores-jogadores encarnam são vampiros que outrora foram humanos nascidos na época da Reconquista. Assim, o seu passado está não só marcado pelo acumular de centenas de experiências, mas principalmente por todos os dramas, paixões e conflitos inerentes à sua natureza vampírica. Apesar da existência de vampiros se manter secreta ao longo dos séculos, há diversos indíviduos que conhecem a verdade e que os perseguem usando de todos os meios possíveis. Além disso, é raro aos vampiros colaborarem entre si e é frequente atraiçoarem-se. Por isso, a verdade é que os leitores-jogadores encarnam os últimos vampiros do mundo, para os quais é crucial recuperarem o seu passado, de modo a que tenham a hipótese de um futuro.

23 de novembro de 2009

Tu és um dos últimos vampiros no mundo

Este livro assume que cada um dos leitores é um vampiro que acaba de acordar de um torpor de várias décadas. Eles são vampiros muito antigos e poderosos, mas encontram-se desorientados e sem memória do seu passado. “Sangue-Frio” é um caderno deixado por um dos seus falecidos companheiros com o propósito de os ajudar no momento em que acordassem. Está assim inteiramente escrito por essa personagem com a intenção de guiar os seus leitores vampiros na recuperaração da sua memória. Para isso, o caderno descreve passo-a-passo um ritual que é, na prática, um jogo cooperativo que os leva a reconstruir em grupo as mais diversas cenas do extenso passado de cada um.

9 de novembro de 2009

Uma lista de coisas boas



Tu és um dos últimos vampiros no mundo  
Explora o teu imenso poder e tudo o que estás disposto a fazer para o conservar. 
Descobre os meandros do teu trágico destino e decide o teu próprio rumo.

Mergulha nas profundezas da imaginação combinada de todos os teus amigos. 

Basta juntar jogadores, um baralho de cartas e começar a ler do primeiro parágrafo.

Entra completamente dentro de personagem assim que começares a jogar.

Joga agora e continua mais tarde com os mesmos ou com outros amigos.

Consulta o Tarot Vampírico após o jogo e perscruta o futuro do teu vampiro.

5 de novembro de 2009

Primeiras reacções

Jogar entre amigos tem destas coisas. Por um lado, entre enganos e percalços, já há uns tempos que não me ria tanto numa sessão de RPG. Por outro, conseguimos testar todo o material que escrevi até à data e eu descobri, na práctica, como o "Sangue-Frio" de facto funciona. Para alguma surpresa minha, a mecãnica central rodou perfeitamente à volta da mesa e, em pouco tempo, toda a gente engrenou no jogo e usou-o para se divertir bastante.

A nível de regras, a sessão não suscitou nenhuma alteração, o sistema parece estar pronto. A nível de ambientação, houve um ou outro detalhe que eu descobri estar a faltar para facilitar a introdução dos jogadores através dos primeiros parágrafos e para evidenciar melhor a participaçãode todos. A nível do texto, detectei várias partes a melhorar para que a leitura em voz alta seja tao inteligível quanto possível. Em geral, esta sessão de teste ultrapassou as minhas expectativas tendo em conta o quanto me ajudou a aperfeiçoar o jogo.

Estou agora a rever todo o material escrito na sequência do feedback que obti, de modo a ter pronta uma versão definitiva do conteúdo mais essencial. Entretanto, já comecei a escrever o restante conteúdo de apoio para que este jogo se torne efectivamente num livro.

28 de outubro de 2009

Pronto até aqui

Acabei agora de escrever uma versão beta que vou testar, muito apropriadamente, neste próximo Dia das Bruxas, 31 de Outubro. Apesar de ser em ambiente de brincadeira, conto tirar a limpo muita coisa que ainda está bastante no ar.

Pressupondo que o jogo irá funcionar conforme pensado até agora, o truque ao escrevê-lo está em providenciar toda a informação necessária passo-a-passo sem tornar o texto demasiado longo - o que nem sempre é fácil de se fazer. Neste momento, tenho escritos perto de trinta parágrafos, o que julgo ser equilibrado, mas só experimentando é que se vai ver.

Além deste texto feito para ser lido em voz alta, o livro também terá mais material extra que pode depois ser lido normalmente. Conto começar a trabalhar nessa parte na próxima semana, após ter revisto a parte que já está pronta na sequência da sessão de teste que vou jogar este Sábado.

20 de outubro de 2009

O que é este blogue?


Este blogue é um diário de desenvolvimento do projecto "Sangue-Frio", um livro-jogo criado e escrito por mim. O site servirá para acompanhar o meu trabalho até este ser publicado, incluindo as várias sessões de teste que conto fazer. Após a publicação, este blogue ficará ao serviço dos seus leitores-jogadores reunindo aqui todas as histórias e personagens que tenham criado nas suas sessões e que queiram partilhar.

O meu nome é Ricardo Tavares, gosto de todo o tipo de livros e, recentemente, adquiri o vício da escrita. Além disso, gosto também de todo o tipo de jogos e, em particular, comecei a jogar RPGs desde o lançamento de Vampire: the Masquerade na sua edição Revised. Adoro todo o potencial dramático que os vampiros têem como personagens, graças à sua natureza carregada de tragédia e de simbolismo. Penso que fazem todo o sentido para este projecto e espero fazer-lhes justiça.

19 de outubro de 2009

O que é Sangue-Frio?


O livro "Sangue-Frio: Histórias dos Últimos Vampiros" é um jogo e, ao mesmo tempo, uma história criada instantaneamente pelos seus jogadores. Nenhuma leitura prévia das regras é necessária. Basta reunir três a cinco pessoas e começar a jogar lendo o primeiro parágrafo do livro. O único material necessário é um baralho normal completo com 54 cartas.

Para além disso, é recomendável jogar à volta de uma mesa num local onde se possa falar à vontade e todos os jogadores se possam ouvir. Uma outra sugestão é jogar à noite, servir a todos um copo com alguma bebida de cor vermelha e, já agora, no fim do jogo pode ser útil ter à mão algum material de escrita.

Se leste até aqui, já sabes tudo e até mais do que precisas para começares a jogar. Se quiseres saber mais, consulta esta lista de coisas boas.